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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A vespa e a barata




A vespa-jóia
(Ampulex compressa) usa a barata (Periplaneta americana) para a incubação de um ovo em seu corpo. O vídeo abaixo auxilia a discussão a seguir





A vespa joia (Ampulex compressa) é um parasitoide altamente específico da barata Periplaneta americana, o ataque e a injeção do veneno da vespa na barata se dar por movimentos precisos e coordenados, o que garante a completa inanição da barata, garantindo o desenvolvimento das larvas da própria vespa dentro do corpo da barata. O ataque se dá por meio de duas picadas, a priori a A. compressa atinge o gânglio torácico, onde o veneno é injetado. Nesse momento a barata perde o movimento das pernas dianteiras. A posteriori, com um segundo golpe, a vespa utiliza sua antena para encontrar o local certo para injeção do veneno no cérebro da sua vítima, deixando-a como um zumbi. A vespa faz isso para controlá-la afim de que ela continue a realizar suas funções metabólicas e assim servir de fonte de alimento vivo para sua larva, e não para paralisa-la.
A vespa injeta o veneno no gânglio cerebral da barata, que nos insetos são considerados como centro neuronal de ordem superior. A neurotoxina da vespa causa um bloqueio na transmissão sensitiva da substância responsável pelo movimento, a dopamina, devido aos compostos presentes na sua toxina. No primeiro ataque, quando o veneno entra em contato com o gânglio torácico da barata, promove o bloqueio dos receptores de membrana pós-sinápticos, impedindo que a informação seja transmitida e, consequentemente, causando a paralisia na barata. A dopamina é um neurotransmissor sintetizado em áreas do sistema nervoso central e periférico, e assim que formada, é encapsulada em vesículas e posteriormente será liberada durante a sinapse, ela possui função ligada ao movimento, a memória, a atenção, a recompensa agradável, dentre outras. Essas vesículas encontram-se concentradas no terminal axônico, e quando os impulsos nervosos chegam a esse terminal, os neurotransmissores são liberados por meio da exocitose. Para ocorrer a sinapse é necessária a transferência dos neurotransmissores da membrana pré-sináptica, para a membrana pós-sináptica. Como o veneno da vespa joia bloqueia a transmissão desse neurotransmissor, no primeiro momento ela impede a comunicação entre o gânglio torácico com os membros e no segundo momento, quando injeta seu veneno no cérebro da barata, bloqueia especificamente os receptores do neurotransmissor excitatório octopamina (age no controle dos movimentos e sensações), interferindo na resposta motora da barata, fazendo-a perder a motivação de fugir, transformando-a em um “zumbi”. Portanto a barata fica a mercê da vespa, que a carrega para a sua toca, deposita seu ovo na axila da barata, e dali eclodirá em poucos dias uma larva que se alimentará da barata viva, porem em estado de metabolismo basal, imóvel e indefesa, até que todos os seus órgãos sejam consumidos pela larva e esta se desenvolva em uma nova vespa joia.
Nota-se então, a enorme especificidade da ação do veneno das vespas joia em baratas de esgoto, que não pode ser muito forte, ou irá levar a barata à morte, fugindo do seu propósito, que é mantê-la viva para servir de alimento para seus descendentes; e também não pode ser fraco ou injetado no local errado, ou então a barata fugirá. Percebe-se também ação desse veneno nas respostas neuronais do sistema motor da barata, o que reflete a ação ativa e constante da evolução no que tange as interações ecológicas dos animais em busca da sobrevivência.

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